Para maior entendimento da Revolução de 1848, devemos retomar
certos aspectos da Revolução de 1830. Sobretudo contra a restauração
conduzida pelo Rei Carlos X, que garantia a retomada dos antigos privilégios do clero e da
nobreza e dos moldes de um governo centralizado, o proletariado e a burguesia unidos
reagiram, em 1830, por meio de levantes e barricadas pelas ruas de Paris. Esses
movimentos tiveram como resultado o exílio de Carlos X na Inglaterra e a tomada
do poder pelo duque Luis Filipe de Orleans, burguês que reformulou a antiga
Constituição.
Como
conseqüência da Constituição enfaticamente liberal de Luís Filipe (a qual
atendia exclusivamente aos interesses da burguesia e excluía os do
proletariado) e das condições precárias de vida e trabalho, em fevereiro de
1848 eclodiu um novo movimento revolucionário com impetuosa participação das
camadas populares e com a adesão da Guarda Nacional. Assim como seu antecessor,
Luis Filipe abdicou o trono e refugiou-se na Inglaterra. Apesar disso, as manifestações
não pararam por aí: já que o movimento francês exaltou o ânimo das massas
populares que ansiavam por mudanças profundas, durante o ano de 1848 a Europa
foi sacudida por uma série de revoluções de cunho liberal chamada de "Primavera dos Povos".
O que levava as
massas populares a participarem das barricadas foi uma mistura de aspirações
que iam do socialismo utópico à redução da jornada de trabalho. O movimento
em cadeia iniciou-se com a insurreição da Sicília e se estendeu até a guerra na
Hungria. Podemos ver claramente os efeitos da Revolução em países como a Itália
e a Alemanha, em seus respectivos processos de unificação.
Na Itália o
movimento não teve um sentido social. Seus líderes, animados por ideais liberais e republicanos, desejavam a unificação do país, o que ocorreu apenas em 1861. A Sicília rebelou-se
contra a dominação da dinastia dos Bourbons e, apesar de esmagada em poucos
dias, a rebelião provocou reações em Milão (que se opôs à dominação austríaca),
em Veneza e no Piemonte. Garibaldi teve papel estratégico nas lutas, mas acabou
aprisionado e condenado ao exílio. A ordem foi restabelecida.
Na Alemanha,
país igualmente desunido, as aspirações liberais eram representadas pela
intelectualidade. Operários e camponeses fizeram levantes em vários Estados (a
Alemanha só será unificada em 1871). No dia 18 de março, as forças da monarquia
prussiana mataram centenas que haviam levantado barricadas em Berlim. Aceitando
as reclamações liberais, a monarquia convocou uma assembléia nacional, eleita
de forma indireta. Apesar dos debates para a elaboração da nova constituição,
ela foi recusada pelo rei, que dissolveu o parlamento.
As revoltas desses países são
somente exemplos dos efeitos que a Europa sofreu a partir da Revolução de 1848,
que se iniciou a fim de tornar ideais como os de igualdade entre os povos, fraternidade
e liberdade, concretos. Ao fim da Primavera dos Povos também chegava ao fim uma
era conturbada de conquistas e desenvolvimento para a maioria dos países
europeus: a Era das Revoluções.
Por Beatriz Salles
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