sexta-feira, 5 de abril de 2013

Primavera dos povos: revolução em cadeia


        Para maior entendimento da Revolução de 1848, devemos retomar certos aspectos da Revolução de 1830. Sobretudo contra a restauração conduzida pelo Rei Carlos X, que garantia a retomada dos antigos privilégios do clero e da nobreza e dos moldes de um governo centralizado, o proletariado e a burguesia unidos reagiram, em 1830, por meio de levantes e barricadas pelas ruas de Paris. Esses movimentos tiveram como resultado o exílio de Carlos X na Inglaterra e a tomada do poder pelo duque Luis Filipe de Orleans, burguês que reformulou a antiga Constituição.

         Como conseqüência da Constituição enfaticamente liberal de Luís Filipe (a qual atendia exclusivamente aos interesses da burguesia e excluía os do proletariado) e das condições precárias de vida e trabalho, em fevereiro de 1848 eclodiu um novo movimento revolucionário com impetuosa participação das camadas populares e com a adesão da Guarda Nacional. Assim como seu antecessor, Luis Filipe abdicou o trono e refugiou-se na Inglaterra. Apesar disso, as manifestações não pararam por aí: já que o movimento francês exaltou o ânimo das massas populares que ansiavam por mudanças profundas, durante o ano de 1848 a Europa foi sacudida por uma série de revoluções de cunho liberal chamada de "Primavera dos Povos".
         O que levava as massas populares a participarem das barricadas foi uma mistura de aspirações que iam do socialismo utópico à redução da jornada de trabalho. O movimento em cadeia iniciou-se com a insurreição da Sicília e se estendeu até a guerra na Hungria. Podemos ver claramente os efeitos da Revolução em países como a Itália e a Alemanha, em seus respectivos processos de unificação.
         Na Itália o movimento não teve um sentido social. Seus líderes, animados por ideais liberais e republicanos, desejavam a unificação do país, o que ocorreu apenas em 1861. A Sicília rebelou-se contra a dominação da dinastia dos Bourbons e, apesar de esmagada em poucos dias, a rebelião provocou reações em Milão (que se opôs à dominação austríaca), em Veneza e no Piemonte. Garibaldi teve papel estratégico nas lutas, mas acabou aprisionado e condenado ao exílio. A ordem foi restabelecida.
         Na Alemanha, país igualmente desunido, as aspirações liberais eram representadas pela intelectualidade. Operários e camponeses fizeram levantes em vários Estados (a Alemanha só será unificada em 1871). No dia 18 de março, as forças da monarquia prussiana mataram centenas que haviam levantado barricadas em Berlim. Aceitando as reclamações liberais, a monarquia convocou uma assembléia nacional, eleita de forma indireta. Apesar dos debates para a elaboração da nova constituição, ela foi recusada pelo rei, que dissolveu o parlamento.
         As revoltas desses países são somente exemplos dos efeitos que a Europa sofreu a partir da Revolução de 1848, que se iniciou a fim de tornar ideais como os de igualdade entre os povos, fraternidade e liberdade, concretos. Ao fim da Primavera dos Povos também chegava ao fim uma era conturbada de conquistas e desenvolvimento para a maioria dos países europeus: a Era das Revoluções.

                                                                               Por Beatriz Salles  

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