Adilson
de Oliveira
Departamento
de Física e Universidade Federal de São Carlos
Marcar
o tempo sempre foi uma necessidade humana, desde os primórdios da
civilização. Hoje nossas vidas são cada vez mais dependentes de
seu controle e a percepção é de que ele se torna cada vez mais
escasso. (imagens: Sxc.hu)
Tempo
Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...
(Gilberto Gil)
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...
(Gilberto Gil)
O
colunista Adilson de Oliveira, colunista do site Ciência Hoje, começa
seu artigo dizendo que o
tempo, apesar de ter uma medição bem definida, não é de fácil
definição nem de universal percepção. Podemos ficar envolvidos
com certas atividades nas quais não percebemos o tempo passar. É o
que acontece, por exemplo, quando fazemos algo que nos agrada, como
uma leitura cativante ou estar na companhia de uma pessoa
interessante.
Ele
também cita a sensação de alguns poucos minutos parecer que horas
se passaram. É o caso de quando fazemos algo maçante ou vivemos um
problema angustiante, como ficar preso no elevador.
O
autor diz que marcar o tempo sempre foi uma necessidade humana, pois
a nossa vida é determinada por ciclos e a repetição destes foi
fundamental para o desenvolvimento da humanidade, em particular da
agricultura, nos primórdios da civilização.
Adilson
fala que nos dias atuais, controlar o tempo é mais vital.
Praticamente todos nós temos agendas que marcam os nossos
compromissos. Ele usa como exemplo pessoas mais conectadas, como ele,
têm a agenda no telefone celular, para lembrar o início de cada
compromisso, seja na hora em que ele vai começar, ou dias antes,
como é o caso do aviso para ele se lembrar que está chegando o dia
de enviar uma nova coluna para a Ciência
Hoje On-line.
O
colunista também fala que o tempo pode nos parecer abstrato, sem
realidade física, apenas uma sucessão de eventos que marcam a sua
passagem, como a rotação e translação da Terra e o movimento dos
ponteiros dos relógios. Mas o tempo tem uma conexão profunda com
aspectos fundamentais da natureza e, ao mesmo tempo, não pode
existir sozinho.
A
construção de um conceito
Adilson
fala que busca pelo entendimento sobre o que seria o tempo vem de
épocas antigas. E menciona a famosa reflexão feita por Santo
Agostinho (354-430) sobre a natureza dessa dimensão: “O que é,
por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o
quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém,
atrevo-me a declarar, sem receio de contestação, que se nada
sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não
existiria o tempo presente.”
Essa
afirmação mostra a dificuldade em se definir o tempo. Para Santo
Agostinho, sua existência está ligada de alguma forma à existência
do mundo que nos cerca, de forma que ele não estaria desconectado do
próprio universo.
Ele
também menciona um dos mais influentes filósofos de todos os
tempos, o francês René Descartes (1596-1650), em seus diversos
escritos, refletiu acerca do tempo, considerando-o a maneira de
conhecer a duração de alguma coisa e, dessa forma, ele estaria
apenas em nosso pensamento.
O
colunista conta que o conceito clássico de tempo como algo de
fundamental importância para descrever os fenômenos naturais tem
uma das suas primeiras definições na grandiosa obra de Isaac Newton
(1642-1727) Principia,
que o apresenta como “o tempo absoluto, verdadeiro e matemático,
de si próprio, e de sua própria natureza flui igualmente sem
consideração por nada externo, e por um outro nome é chamado de
duração...”
Adilson
cita Newton que afirma que o tempo é algo independente, que passa
sem sofrer qualquer ação, seja ela humana ou natural. Para ele, o
tempo é decorrência de uma sucessão de eventos, como a maioria de
nós o percebe. Para medir o tempo, segundo Newton, é necessário
medir o movimento, seja a oscilação de um pêndulo ou os movimentos
celestes (como a rotação e translação da Terra). Em suas próprias
palavras, “todos os movimentos podem ser acelerados ou retardados,
mas o progresso verdadeiro ou reproduzível do tempo absoluto não é
suscetível a nenhuma mudança”.
Esquema
do movimento de translação da Terra. Para Newton, o tempo é
independente da ação humana e da natureza. Para medi-lo, é preciso
mensurar o movimento, como aquele protagonizado pelos astros.
(imagem: Wikimedia Commons/ Tauʻolunga)
Ele
também diz que essa forma de compreender o tempo permaneceu
inalterada até o começo do século 20. Nessa época estavam
consolidados dois pilares importantes da física: a mecânica
clássica e o eletromagnetismo. O primeiro, que se baseia
principalmente nas ideias de Newton, permite a descrição de
inúmeros fenômenos, como o movimento dos planetas. O segundo se
sustenta principalmente na teoria eletromagnética desenvolvida por
James C. Maxwell (1831-1879), que mostrava por meio de quatro
equações fundamentais, entre diversos resultados, que a luz era uma
onda eletromagnética.
A relatividade do tempo
O
autor explica que essas teorias apresentavam, porém, certas
incompatibilidades, em particular no que tange à descrição de
observadores em movimento, ou seja, diferentes observadores
perceberiam os fenômenos eletromagnéticos de maneira diferente.
Isso significava que ou as equações de Maxwell estavam erradas ou
os princípios da mecânica clássica estavam incorretos.
Ele
conta que para
resolver esse problema, Albert Einstein (1876-1955), em 1905,
publicou um artigo revolucionário, denominado ‘Sobre a
eletrodinâmica dos corpos em movimento’, no qual apresenta os
princípios da teoria da relatividade restrita. Essa teoria tem dois
princípios fundamentais. De uma maneira simplificada, eles afirmam
que as leis físicas são as mesmas para todos os observadores
inerciais (em repouso ou em movimento uniforme) e que a velocidade da
luz é invariante para qualquer observador.
Com
base nesses princípios, Einstein mostrou que, ao contrário do que
Newton defendia, a passagem do tempo depende do movimento. Quanto
mais rápido se move, mas lento o tempo passa. Por mais incrível que
isso possa parecer, tal resultado foi observado em diversos
experimentos científicos e máquinas como os aceleradores de
partículas somente funcionam de maneira adequada por serem
projetadas em função das previsões da teoria de Einstein.
Adilson
fala que posteriormente, em 1915, Einstein estendeu a sua teoria para
explicar os fenômenos em referenciais acelerados, o que levou à
elaboração da teoria da relatividade geral, que se tornou uma nova
teoria para a força da gravidade. Um dos seus resultados relevantes
é que a gravidade também afeta a passagem de tempo, de forma que
quanto mais perto estamos do centro da Terra, mais devagar ela
ocorre.
Concepção
artística da distorção do espaço-tempo, prevista pela teoria da
relatividade geral, de Albert Einstein. Com ela, o cientista mostrou
que a gravidade também afeta a passagem do tempo, de forma que
quanto mais perto estamos do centro da Terra, mais devagar ela
ocorre. (imagem: Nasa)
Ele
menciona Algumas
das teorias mais modernas elaboradas para descrever a gravidade em
nível quântico, como a dos loops
gravitacionais,
predizem a possibilidade de tanto o espaço quanto o tempo serem
discretos. Dessa forma, nenhum instante de tempo poderia ser menor do
que uma quantidade na ordem de 10^-34s
(1 dividido por 10 seguido de 33 zeros!). O tempo deixaria de ser
algo contínuo para se transformar em algo discreto. Contudo, isso
ainda é apenas teoria e não há evidências experimentais para
confirmá-la.
O
colunista conclui o artigo dizendo que o
tempo,
tão presente nas nossas vidas, é muito enigmático. Sua verdadeira
natureza ainda é debatida por filósofos e investigada pelos
cientistas. Uma resposta definitiva ainda não foi alcançada.
Somente o tempo nos ensinará o seu real significado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário