sábado, 25 de maio de 2013

Poderes à Prova

Adilson de Oliveira
Departamento de Física e Universidade Federal de São Carlos


O Homem de Ferro tem poderes ‘fabricados’ com tecnologias avançadas. Na sua versão atual, a fonte de energia de seus apetrechos ‘high tech’ é um ‘reator ark’ – estampado em seu peito –, que parece funcionar com fusão nuclear a frio. (foto: reprodução)

   O texto de Adilson de Oliveira publicado na coluna Física sem Mistério do site Ciência Hoje fala sobre os poderes de personagens e da possibilidade de serem reproduzidos na realidade. Ele diz como nos últimos anos, entre os principais sucessos estão os filmes de super-heróis. Vingadores, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Batman, Superman, Capitão América e outros ganham destaque nas telas de cinema, talvez pelo apelo que esses personagens têm em diversas faixas etárias. Muitos, como ele, os conhecem desde a infância. Outros podem estar em seu primeiro contato.
   A grande maioria desses personagens foi originalmente criada em um tipo particular de literatura: as histórias em quadrinhos. Nas tiras de jornais ou em revistas exclusivas surgiram heróis e vilões com poderes sobre-humanos, como capacidades de voar, levantar objetos pesando muitas toneladas, vencer grandes distâncias rapidamente, entre outros.
   Adilson conta um pouco sobre o mais famoso dos super-heróis, o Superman, que surgiu em 1938, em uma história em quadrinhos. Por ter nascido em um planeta diferente (Kripton), com uma gravidade muito maior do que a da Terra e na órbita de uma estrela gigante vermelha, ao ser enviado ao nosso planeta, com ação da gravidade menor e na órbita de uma estrela amarela (o Sol), apresenta características especiais.
   Os superpoderes do Superman são realmente fantásticos. Ele pode voar em altíssimas velocidades (algumas vezes até mais rápido do que a luz) e tem superforça, supervisão, superaudição, visão de calor e de raios X. Será que tais poderes seriam possíveis na vida real?
   O autor responder a resposta dizendo que infelizmente, do ponto de vista da física, as habilidades do Superman são impossíveis. Por exemplo, seu voo acontece sem que nada o impulsione. Todos os movimentos decorrem da ação de uma única força. Para um avião a jato voar, por exemplo, ele usa turbinas que sugam o ar e, em seguida, o expele com grande força, para que ocorra uma reação, igual e contrária – como prediz a terceira Lei de Newton (conhecida também como princípio da ação-reação) – que o impulsiona para frente.
   Ele também da outro exemplo: da mesma forma, quando caminhamos, a força de atrito que existe entre os nossos pés e o chão reage à força que aplicamos nesse último e nos faz andar. No caso do Superman, não observamos nada parecido. Ele simplesmente voa.
Entre os outros poderes, a visão de raios X ele conta que talvez seja o mais difícil de justificar. Quando observamos qualquer objeto, só o vemos porque ele está refletindo ou emitindo luz. Mesmo que os olhos do Superman emitissem raios X, estes não refletiriam na matéria da mesma maneira que a luz visível.

O físico explica por que os poderes do Superman são inverossímeis. Entre eles, a visão de raios X talvez seja o mais difícil de justificar, pois mesmo que os olhos do Superman emitissem esse tipo de raio, eles não refletiriam na matéria da mesma maneira que a luz visível. (foto: reprodução)

   Adilson também explica como funciona quando fazemos uma radiografia ou tomografia do nosso corpo. Uma parte da radiação atravessa o corpo e a outra é absorvida. Dependendo da forma que essa radiação é absorvida pelos diferentes tecidos, ocorrem os contrastes que sensibilizam o filme fotográfico (ou detector) colocado atrás do corpo, criando a imagem.

Superpoderes tecnológicos

   Um dos seus super-heróis favoritos é o Homem de Ferro. Embora o personagem Tony Stark não seja um primor de bom caráter, a armadura que lhe dá superpoderes – que não é de ferro, e sim de metal – é realmente impressionante. Com ela, ele pode realizar façanhas incríveis, como voar a partir de propulsores nos pés e nas mãos, bem como emitir raios de alta energia capazes de destruir praticamente qualquer coisa.
   Ele conta que quando o personagem foi criado, na década de 1960, a mais avançada tecnologia da época eram os transistores. E explica o que eram os transistores. Eles são dispositivos feitos de materiais semicondutores que podem ter a sua resistência elétrica ajustada para se comportar de diversas formas, de metais a isolantes. Essa propriedade permitiu a descoberta do efeito transistor, que faz com que esse dispositivo possa controlar o fluxo e amplificação da corrente elétrica em um circuito eletrônico.
   O autor explica como era a armadura do Homem de Ferro. Ela levava transistores especiais que transformavam a carga elétrica das baterias nas incríveis capacidades de voar, disparar raios, entre outras. Para essas proezas, Adilson não consegue imaginar o tamanho que deveria ter a bateria a ser carregada.
   Ele diz que por outro lado, nas recentes aparições do Homem de Ferro no cinema, as tecnologias usadas são mais compatíveis com os seus poderes. Na atual versão, a fonte de energia é um 'reator ark' – estampado em seu peito –, que parece funcionar com fusão nuclear a frio, pois, para realizar todos os seus feitos, necessitaria de uma enorme quantidade de energia, como as produzidas no processo de fusão. Mas a fusão nuclear ocorre no interior das estrelas ou nas armas nucleares.
   O colunista também fala sobre a fusão nuclear a frio que foi noticiada em 1989 pelos pesquisadores Martin Fleischmann e Stanley Pons, na Universidade de Utah, nos Estados Unidos. Ao estudar a implantação do deutério (isótopo de hidrogênio que possui um próton e um nêutron no núcleo atômico) em paládio, por meio uma reação eletroquímica utilizando 'água pesada' – na qual o deutério substitui o hidrogênio –, eles observaram um aumento na temperatura da solução e detectaram uma emissão anormal de nêutrons (que ocorre em processos de fusão nuclear).
   Contudo, os resultados não foram reproduzidos e se concluiu na época que houve um erro de medida na emissão de nêutrons observada durante a reação. Curiosamente, o reator ark do Homem de Ferro utiliza o mesmo elemento.


Outros superpoderes

   O Homem-Aranha é outro super-herói que Adilson acha muito interessante. Os seus poderes surgiram a partir da picada de uma aranha geneticamente modificada. O veneno da aranha alterou o seu código genético e lhe conferiu poderes especiais, como a capacidade de escalar paredes, força proporcional a uma aranha de tamanho humano e uma capacidade de pressentir quando está em perigo. Será que algo normalmente fatal poderia transformar dessa forma o corpo de uma pessoa?
   Ele explica que qualquer substância que ingerimos, seja por via oral ou intravenosa, pode afetar a bioquímica do corpo, ou seja, modificar os processos de funcionamento do organismo. Nenhuma substância conhecida poderia, em dose e escala de tempo tão pequenas, alterar a estrutura do código genético de todas as células do corpo e nos transformar em outra espécie, que é o caso do Homem-Aranha.

Os poderes do Homem-Aranha surgiram a partir da picada de uma aranha geneticamente modificada, cujo veneno alterou seu código genético e lhe conferiu poderes especiais, como a capacidade de escalar paredes. Uma transformação desse tipo também seria altamente improvável no corpo humano. (foto: reprodução)

   Adilson fala que a ação de uma substância estranha normalmente prejudica o organismo. Reorganizar toda a estrutura molecular do DNA, que contém todas as informações genéticas de um indivíduo, de forma a criar uma espécie aprimorada, é muito difícil de acontecer. Seria também pouco provável uma habilidade de percepção extrassensorial seletiva, como é o caso do ‘sentido de aranha’ que lhe permite perceber perigos iminentes.
   Ele conclui dizendo que embora os poderes dos super-heróis estejam fora de nossa realidade, suas aventuras, vitórias e derrotas são ótimas formas de diversão e podem nos levar, como todo tipo de conhecimento, a uma reflexão profunda. Talvez esse seja o verdadeiro superpoder desses super-heróis: a capacidade de estimular a nossa imaginação.


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