Adilson
de Oliveira
Departamento
de Física e Universidade Federal de São Carlos
O
Homem de Ferro tem poderes ‘fabricados’ com tecnologias
avançadas. Na sua versão atual, a fonte de energia de seus
apetrechos ‘high tech’ é um ‘reator ark’ – estampado em
seu peito –, que parece funcionar com fusão nuclear a frio. (foto:
reprodução)
O texto de Adilson de
Oliveira publicado na coluna Física sem Mistério do site Ciência
Hoje fala sobre os poderes de personagens e da possibilidade de serem
reproduzidos na realidade. Ele diz como
nos últimos anos, entre os principais sucessos estão os filmes de
super-heróis. Vingadores, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Batman,
Superman, Capitão América e outros ganham destaque nas telas de
cinema, talvez pelo apelo que esses personagens têm em diversas
faixas etárias. Muitos, como ele, os conhecem desde a infância.
Outros podem estar em seu primeiro contato.
A
grande maioria desses personagens foi originalmente criada em um tipo
particular de literatura: as histórias em quadrinhos. Nas tiras de
jornais ou em revistas exclusivas surgiram heróis e vilões com
poderes sobre-humanos, como capacidades de voar, levantar objetos
pesando muitas toneladas, vencer grandes distâncias rapidamente,
entre outros.
Adilson
conta um pouco sobre o
mais famoso dos super-heróis, o Superman, que surgiu em 1938, em uma
história em quadrinhos. Por ter nascido em um planeta diferente
(Kripton), com uma gravidade muito maior do que a da Terra e na
órbita de uma estrela gigante vermelha, ao ser enviado ao nosso
planeta, com ação da gravidade menor e na órbita de uma estrela
amarela (o Sol), apresenta características especiais.
Os
superpoderes do Superman são realmente fantásticos. Ele pode voar
em altíssimas velocidades (algumas vezes até mais rápido do que a
luz) e tem superforça, supervisão, superaudição, visão de calor
e de raios X. Será que tais poderes seriam possíveis na vida real?
O
autor responder a resposta dizendo que infelizmente,
do ponto de vista da física, as habilidades do Superman são
impossíveis. Por exemplo, seu voo acontece sem que nada o
impulsione. Todos os movimentos decorrem da ação de uma única
força. Para um avião a jato voar, por exemplo, ele usa turbinas que
sugam o ar e, em seguida, o expele com grande força, para que ocorra
uma reação, igual e contrária – como prediz a terceira Lei de
Newton (conhecida também como princípio da ação-reação) – que
o impulsiona para frente.
Ele também da outro exemplo: da
mesma forma, quando caminhamos, a força de atrito que existe entre
os nossos pés e o chão reage à força que aplicamos nesse último
e nos faz andar. No caso do Superman, não observamos nada parecido.
Ele simplesmente voa.
Entre
os outros poderes, a visão de raios X ele conta que talvez seja o
mais difícil de justificar. Quando observamos qualquer objeto, só o
vemos porque ele está refletindo ou emitindo luz. Mesmo que os olhos
do Superman emitissem raios X, estes não refletiriam na matéria da
mesma maneira que a luz visível.
O
físico explica por que os poderes do Superman são inverossímeis.
Entre eles, a visão de raios X talvez seja o mais difícil de
justificar, pois mesmo que os olhos do Superman emitissem esse tipo
de raio, eles não refletiriam na matéria da mesma maneira que a luz
visível. (foto: reprodução)
Adilson também explica como funciona
quando fazemos uma radiografia ou tomografia do nosso corpo. Uma
parte da radiação atravessa o corpo e a outra é absorvida.
Dependendo da forma que essa radiação é absorvida pelos diferentes
tecidos, ocorrem os contrastes que sensibilizam o filme fotográfico
(ou detector) colocado atrás do corpo, criando a imagem.
Superpoderes tecnológicos
Um
dos seus super-heróis favoritos é o Homem de Ferro. Embora o
personagem Tony Stark não seja um primor de bom caráter, a armadura
que lhe dá superpoderes – que não é de ferro, e sim de metal –
é realmente impressionante. Com ela, ele pode realizar façanhas
incríveis, como voar a partir de propulsores nos pés e nas mãos,
bem como emitir raios de alta energia capazes de destruir
praticamente qualquer coisa.
Ele
conta que quando
o personagem foi criado, na década de 1960, a mais avançada
tecnologia da época eram os transistores. E explica o que eram os
transistores. Eles são dispositivos feitos de materiais
semicondutores que podem ter a sua resistência elétrica ajustada
para se comportar de diversas formas, de metais a isolantes. Essa
propriedade permitiu a descoberta do efeito transistor, que faz com
que esse dispositivo possa controlar o fluxo e amplificação da
corrente elétrica em um circuito eletrônico.
O
autor explica como era a
armadura do Homem de Ferro. Ela levava transistores especiais que
transformavam a carga elétrica das baterias nas incríveis
capacidades de voar, disparar raios, entre outras. Para essas
proezas, Adilson não consegue imaginar o tamanho que deveria ter a
bateria a ser carregada.
Ele
diz que por
outro lado, nas recentes aparições do Homem de Ferro no cinema, as
tecnologias usadas são mais compatíveis com os seus poderes. Na
atual versão, a fonte de energia é um 'reator ark' – estampado em
seu peito –, que parece funcionar com fusão nuclear a frio, pois,
para realizar todos os seus feitos, necessitaria de uma enorme
quantidade de energia, como as produzidas no processo de fusão. Mas
a fusão nuclear ocorre no interior das estrelas ou nas armas
nucleares.
O
colunista também fala sobre a
fusão nuclear a frio que foi noticiada em 1989 pelos pesquisadores
Martin Fleischmann e Stanley Pons, na Universidade de Utah, nos
Estados Unidos. Ao estudar a implantação do deutério (isótopo de
hidrogênio que possui um próton e um nêutron no núcleo atômico)
em paládio, por meio uma reação eletroquímica utilizando 'água
pesada' – na qual o deutério substitui o hidrogênio –, eles
observaram um aumento na temperatura da solução e detectaram uma
emissão anormal de nêutrons (que ocorre em processos de fusão
nuclear).
Contudo,
os resultados não foram reproduzidos e se concluiu na época que
houve um erro de medida na emissão de nêutrons observada durante a
reação. Curiosamente, o reator ark do Homem de Ferro utiliza o
mesmo elemento.
Outros superpoderes
O
Homem-Aranha é outro super-herói que Adilson acha muito
interessante. Os seus poderes surgiram a partir da picada de uma
aranha geneticamente modificada. O veneno da aranha alterou o seu
código genético e lhe conferiu poderes especiais, como a capacidade
de escalar paredes, força proporcional a uma aranha de tamanho
humano e uma capacidade de pressentir quando está em perigo. Será
que algo normalmente fatal poderia transformar dessa forma o corpo de
uma pessoa?
Ele
explica que qualquer
substância que ingerimos, seja por via oral ou intravenosa, pode
afetar a bioquímica do corpo, ou seja, modificar os processos de
funcionamento do organismo. Nenhuma substância conhecida poderia, em
dose e escala de tempo tão pequenas, alterar a estrutura do código
genético de todas as células do corpo e nos transformar em outra
espécie, que é o caso do Homem-Aranha.
Os
poderes do Homem-Aranha surgiram a partir da picada de uma aranha
geneticamente modificada, cujo veneno alterou seu código genético e
lhe conferiu poderes especiais, como a capacidade de escalar paredes.
Uma transformação desse tipo também seria altamente improvável no
corpo humano. (foto: reprodução)
Adilson
fala que a
ação de uma substância estranha normalmente prejudica o organismo.
Reorganizar toda a estrutura molecular do DNA, que contém todas as
informações genéticas de um indivíduo, de forma a criar uma
espécie aprimorada, é muito difícil de acontecer. Seria também
pouco provável uma habilidade de percepção extrassensorial
seletiva, como é o caso do ‘sentido de aranha’ que lhe permite
perceber perigos iminentes.
Ele
conclui dizendo que embora
os poderes dos super-heróis estejam fora de nossa realidade, suas
aventuras, vitórias e derrotas são ótimas formas de diversão e
podem nos levar, como todo tipo de conhecimento, a uma reflexão
profunda. Talvez esse seja o verdadeiro superpoder desses
super-heróis: a capacidade de estimular a nossa imaginação.
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